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Inverno, neste agosto de 2020, está chuvoso e
frio em Curitiba, mais do que outros invernos, e Oaldo em visita ao seu ex-colega petroleiro e amigo
Rodolfo, não imagina o que está por vir; os dois, caminham com seus guarda-chuvas
na pista de cooper do parque Barigui, relembrando coisas da REPAR e dando boas
rizadas. O assunto era as greves e fura-greves dos anos oitenta, quando, num repentino clarão, mais do que um relâmpago,
uma luminância se abre entre a terra e o
céu, corpos íntegros brotam do chão e se alinham em direção ao céu pelo caminho
de brilho em um fluxo intenso de ressuscitados. Na sequência, pessoas vivas que estão no
parque também seguem o arrebatamento, junto a estes, o amigo de Oaldo, subitamente é agarrado pela
sua amada que surge do nada e, sem se despedirem, levitam ao caminho luminoso
para irem viver em glória com o Senhor.
Sem entender direito o que estava acontecendo, Oaldo junta-se a um grupo de pasmos observadores que se aglomeraram em um descampado de um estacionamento. — “Coisa de Deus!” — ecoa no silêncio o dito por um descansado mendigo. Todos entendem assim e ninguém discorda do mendicante que alguns o conhecem, e sabem de seu passado hippie holístico.
Oaldo vai para o hotel, e lá, a conversa é uma só... o arrebatamento. Na tela da televisão Ultra HD de 8k, instalada no hall do Barigui Park Hotel, o assunto é também o mesmo: cenas dos cemitérios e de lugares onde ocorreu o fenômeno divino, num desfile de imagens impressionantes. Numa delas, em Jerusalém, o apresentador solta-se de seus apetrechos de comunicação e sobe ao Céu frente às câmeras, cenas como essa se repetiram por várias vezes durante o resto do dia. O arrebatamento ocorreu no mundo inteiro, mas Jerusalém foi especial, pois, como já era esperado por todos, os fluxos de justos agraciados foi muito intenso, na maioria dos cemitérios e tumbas, algumas delas desconhecidas dos habitantes atuais. Lá, os sinais do fim dos tempos eram mais explícitos e havia certa ansiedade por este momento.
Sem entender direito o que estava acontecendo, Oaldo junta-se a um grupo de pasmos observadores que se aglomeraram em um descampado de um estacionamento. — “Coisa de Deus!” — ecoa no silêncio o dito por um descansado mendigo. Todos entendem assim e ninguém discorda do mendicante que alguns o conhecem, e sabem de seu passado hippie holístico.
Oaldo vai para o hotel, e lá, a conversa é uma só... o arrebatamento. Na tela da televisão Ultra HD de 8k, instalada no hall do Barigui Park Hotel, o assunto é também o mesmo: cenas dos cemitérios e de lugares onde ocorreu o fenômeno divino, num desfile de imagens impressionantes. Numa delas, em Jerusalém, o apresentador solta-se de seus apetrechos de comunicação e sobe ao Céu frente às câmeras, cenas como essa se repetiram por várias vezes durante o resto do dia. O arrebatamento ocorreu no mundo inteiro, mas Jerusalém foi especial, pois, como já era esperado por todos, os fluxos de justos agraciados foi muito intenso, na maioria dos cemitérios e tumbas, algumas delas desconhecidas dos habitantes atuais. Lá, os sinais do fim dos tempos eram mais explícitos e havia certa ansiedade por este momento.
Canais sensacionalistas e
tendenciosos selecionam e divulgam
imagens inusitadas e até bizarras de fatos flagrados durante a subida aos Céus. Um santo foi pego de
surpresa enquanto estava “nos finalmente” do ato sexual com sua digníssima
senhora. Enquanto sua assunção ocorre frente às câmeras, ele nu e só, fica em
movimentos pélvico repetitivos lamentando que sua parceira não tivesse a mesma
sorte de ir ao convívio do Senhor. Enquanto isso, os canais de televisão mais
sérios, que se recusam a participar do grupo “imprensa golpista”, divulgam um
cenário mais serio e paradisíaco com cânticos gregorianos, apropriado para este
momento tão importante. Também, entrevistam as pessoas que num movimento de
última hora abarrotam os Templos, Igrejas e locais sagrados para tentar, com um
“jeitinho brasileiro”, uma vaga entre os arrebatados e, até mesmo, pleitear uma
desistência. Religiosos, não escolhidos para o convívio no Céu, dão variadas
explicações para justificar o ocorrido, sendo a mais comum a de que ficaram
aqui para continuar salvando as pessoas dos pecados mundanos que continuarão
ocorrendo durante esses sete anos de tribulação.
— É uma fase de transição! Disse um ancião, conhecidíssimo bispo da Igreja Universal... disse mais: — “Nós, que seremos arrebatados por último seremos arrebatados melhor”. O que não tranquilizou os fiéis rejeitados que neste momento lotam o reluzente Templo de Salomão no Rio de Janeiro. Outros, apartados de seus parentes e amigos, dizem não acreditar no ocorrido, que tudo, é invenção da mídia sensacionalista e, boatos, como o “Evo sabia de tudo” tomou conta do Fightface da Grand Bolivia.
Passado o fenômeno celestial do arrebatamento, devagarzinho, os que ficaram começam a cair na realidade, inclusive Oaldo que tenta se posicionar nos fatos, assistindo as entrevistas ao vivo que ocorrem com os excluídos. — Fazer o quê? — Pensou Oaldo... — Levar a vida que tinha antes, apenas tomar mais cuidado com os viventes, acho, que a proporção de justos na população deve ter caído muito.
E realmente, a merda está feita. O que estava ruim, está pior; juízes sistematicamente absolvem criminosos e os presídios se esvaziam. Governantes virando impiedosos ditadores e o caos se instalando em todos os lugares. Novos métodos de torturas são inventados como o "satânico beija-flor" e a "imolação donzel".
Nestes sete anos o mundo parou... pior! Retrocedeu.
— É uma fase de transição! Disse um ancião, conhecidíssimo bispo da Igreja Universal... disse mais: — “Nós, que seremos arrebatados por último seremos arrebatados melhor”. O que não tranquilizou os fiéis rejeitados que neste momento lotam o reluzente Templo de Salomão no Rio de Janeiro. Outros, apartados de seus parentes e amigos, dizem não acreditar no ocorrido, que tudo, é invenção da mídia sensacionalista e, boatos, como o “Evo sabia de tudo” tomou conta do Fightface da Grand Bolivia.
Passado o fenômeno celestial do arrebatamento, devagarzinho, os que ficaram começam a cair na realidade, inclusive Oaldo que tenta se posicionar nos fatos, assistindo as entrevistas ao vivo que ocorrem com os excluídos. — Fazer o quê? — Pensou Oaldo... — Levar a vida que tinha antes, apenas tomar mais cuidado com os viventes, acho, que a proporção de justos na população deve ter caído muito.
E realmente, a merda está feita. O que estava ruim, está pior; juízes sistematicamente absolvem criminosos e os presídios se esvaziam. Governantes virando impiedosos ditadores e o caos se instalando em todos os lugares. Novos métodos de torturas são inventados como o "satânico beija-flor" e a "imolação donzel".
Nestes sete anos o mundo parou... pior! Retrocedeu.
A volta do Senhor passa a ser implorada pelas minorias de novos justos. Estes formam grupos pela principal rede social, o Fightface, site que passou a ser a coqueluche do momento, depois que o Facebook quebrou em uma espetacular queda de ações carreada pelas PETR4 que despencaram para R$3,66 por ação, ao que possa, só ser explicável pela cabala.
No Fightface, se contrapondo aos poucos grupos de justos, se proliferam, terroristas em planejamento de ataques a prédios públicos, escolas, hospitais, asilos de idosos, orfanatos, festinhas de aniversários, maternidades e chás de bebê, e, na polícia, que deveria combater os terroristas, muitos policiais, se solidarizavam a eles nas passeatas de rua, portando cartazes "Quanto pior... melhor".
No Brasil e na política, a
ditadura voltou e, no segundo ano da tribulação, o governo está constituído por
poucos ministérios, o que não deveria ser ruim, mas é para concentrar mais
poder aos governantes. No Ministério da Justiça está empoçado (de poço mesmo)
um velho juiz conhecido de todos, o que já mostrou iluminada atuação no campo
da justiça. Sempre que alguém põe em dúvida sua divindade ele manda prender e
arrebentar. Graças a Deus, hoje, ninguém mais duvida deste juiz, que ele é onipresente,
onipotente e onisciente.
No Ministério da Fazenda, como
guardador do tesouro nacional e condutor da política econômica do governo está o
Doutoríssimo Marcos Valério, hoje com 63 anos, e mais maduro após um período em
que “puxou cadeia” inocentemente, pelo menos foi o que se concluiu no segundo
julgamento da ação 470.
Segundo as apurações e
diligências feitas pela CPI liderada pelo presidente do congresso,
Ilustríssimo, Doutoríssimo Satanás, foi constatado que estão ocorrendo diversas tentativas de golpe, com o objetivo explícito de implantar no país, a volta da democracia.
Cabe aqui colocar, que por decreto do AI-18, que dá sequencia aos atos institucionais iniciados em 1964, fica determinado a regulamentação dos títulos honoríficos de nossos mandantes indicados para atuar na lei e na ordem de nosso país.
Cabe aqui colocar, que por decreto do AI-18, que dá sequencia aos atos institucionais iniciados em 1964, fica determinado a regulamentação dos títulos honoríficos de nossos mandantes indicados para atuar na lei e na ordem de nosso país.
Primeiro e único artigo:
Todos os digníssimos e amadíssimos representantes do povo deverão receber os seguintes
títulos nos seus prenomes.
- Presidente da República Popular do Brazil. (Em um detalhe de conservadorismo voltamos ao "z”) Título pré-nominal — Presidencialíssimo — Por motivos de segurança nacional, o nome do mais alto mandatário é secreto.
- Presidente do Congresso e Ministérios da República Popular do Brazil (exceto MJ): — Doutoríssimo —
- Ministério da Justiça: — Santificado —
A volta do Senhor, esperada por
tantos e ignorada pelos maus, incrédulos e muitos governantes, um dia chegou, pois tinham-se passados os sete anos do arrebatamento; ouve-se
uma “trombetada” harmônica, escutada em todos os cantos da terra, a intensidade
do som, só não foi maior por pedido de Deus, que assim quis, limitando em 80
decibéis com a finalidade de proteger os tímpanos sensíveis dos cachorros. Mesmo
assim, alguns cachorros ainda uivaram com dores nos ouvidos. No mesmo pedido,
ficou a solicitação para que a recepção em terra não usassem fogos de
artifícios em respeito aos idosos e bebês que se assustam com os estampidos. Anjos
cobrem o céu de branco, eles não possuem asas conforme eram imaginados, mas
voam como colibris, suas sobrancelhas loiríssimas e longas tremulam como
serpentinas ao vento.
Dois anjos munidos, um com trompete
e outro com trompa, um ao lado do outro, pedem passagem entre a multidão que
congestiona todos os espaços nas proximidades da Basílica do Santo Sepulcro em
Jerusalém. Multidão esta, que se espreme no largo repleto de jornalistas com suas
câmeras de televisão cobrindo os acontecimentos, nada é perdido por eles... são muitos e de todos os cantos do mundo. Imagens transmitidas dos helicópteros
mostram uma aglomeração estimada de mais de três milhões de pessoas, isso na
redondeza da Basílica.
Oaldo está ali também, quer ser um dos primeiros a
ver a triunfal chegada de Jesus.
O caminho aberto pelos anjos
ficou ladeado pelas pessoas que aguardam a vinda tão esperada, surgem os
vendedores de água e cerveja faturando uma graninha extra. Crianças na garupa
dos pais acenam bandeirinhas brancas, deficientes físicos e idosos ficam mais a
frente do povão, e claro, Oaldo com seus 77 anos está lá com uma latinha de
cerveja na mão faz um empurra-empurra para se garantir na primeira fila, afinal
de contas, como idoso deve ter algum privilégio. Privilégio não... direito
adquirido.
Jesus não é de fazer o povo
esperar e surge como um ponto no horizonte que começa a tomar forma com a
aproximação, os anjos vibram, tremulam, contagiando o público de imensa
alegria. A aproximação do Senhor faz com que as pessoas se ajoelham e queiram
beijar suas mãos em um frenesi de adoração. Muitos fingidos, no meio dos fiéis,
fazem cenas exageradas de clamor ardente, se jogam no chão e gritam tentando
chamar a atenção de Jesus. Não há necessidade de alerta para o Salvador, ele
percebe a diferença entre a fé verdadeira e aquela “fé” oportunista, Jesus espevita com
um ar de desdém para os falsos fieis e segue em frente.
Do nada surge um imponente altar decorado com folhas de palma e flores de aboboreira,
no centro dele um trono convidativo para Jesus sentar e, assim, iniciar um
julgamento digno de uma divindade. —
“Está chegando a hora da separação dos triguistas dos joistas.” — Disse, em voz pausada e melódica um próximo
a Jesus, parecendo ser um porta-voz do Senhor ou um chefe cerimonial. Um burburinho toma conta da
maioria das pessoas, se olham entre si e cochicham comentando sobre a aparência
de Jesus. Esperavam alguém conforme o desenho de Warner Sallman, que em 1924 o
fez de olhos azuis e cabelos longos. Mas
não. Lá estava, sentado no trono um homem moreno de olhos castanhos,
vestindo-se com roupa comum, as calças talvez um pouco extravagante devido à
cor “amarelo Vaticano”.
Incrível! Como isso pode
acontecer?... Um grupo de mascarados e vestidos de preto inicia um
quebra-quebra na redondeza, carros são virados e vitrines quebradas com
pedradas e pauladas, mesmo assim, os justos nem sequer olham para trás e
continuam de olhos vidrados em Cristo. O único constrangimento momentâneo foi
uma vaia produzida por um grupo que estava entre os mascarados de preto e os
fiéis, mais tarde explicado de várias maneiras pela mídia televisiva. A
explicação que mais convenceu foi a de que, o desagrado foi produzido por um
grupelho de “filhinhos de papai” querendo aparecer portando cartazes como: “Não
vai ter Julgamento”, “Queremos padrão Céu”, etc.
Os anjos silenciam seus metais de
sopro e Jesus levanta-se de seu trono para proferir o mais esperado discurso
dos últimos tempos. O silêncio foi total, os [1]cinco
bilhões de habitantes pararam e se
fixaram em seus IPhone8 ou seus televisores para assistir por todas as partes a
grande sentença.
—
Meus amados, crédulos e incrédulos! Antes de separar o joio do trigo a todos
direi mais algumas verdades. Muito já foi dito por mim e está escrito, porém, escrevam
mais... de verdade em verdade vos digo, aquele que me seguir até o ano de 3027,
respeitando como gostaria de ser respeitado, tratando como gostaria de ser
tratado (excluo os masoquistas), pronunciando palavras, que gostaria de
ouvi-las de outros para si; amando como gostaria de ser amado, terá a
eternidade do Paraíso. Digo mais, o arrependimento dos pecados não precisa ser
verbalizado... eu sei, eu vejo, pois o verdadeiro arrependimento é um
sentimento e não uma demonstração de retórica oral. Prossegue Jesus. — Falo para todos... os aqui
presentes, os que estão em todas as outras cidades e sítios, os que já
morreram, os que estão em glória celeste e os que estão por vir nos próximos
mil anos. — Parem com essa
besteira de ficar comprando graças e mais graças ou, trocando, por favores de sofrimento,
como se isso me convencesse de ajuda-los nas suas dificuldades. Tudo bobagem! O
mérito está em suas mãos e nos seus verdadeiros sentimentos. —
Bem, não aguento mais esses pecadores e, estou aqui, para, separa-los por mil
anos, colocando-os no lugar que eles merecem juntamente com seus lideres e
Satanás. — Vão... formem uma
fila e sigam para bem longe e até o Juízo Final do Trono Branco. — Sentenciou Jesus Cristo.
Com a sentença pronunciada,
forma-se uma enorme fila, sem violência, sem necessidade de policiais ou
militares eles se vão em direção a algum lugar que não interessa aos justos.
Justos que agora estão livres para a vida no Reino de Cristo.
Antes de aderirem a tétrica fila,
Satanás e o Ministro da Justiça do Brasil, aquele juiz, que ficou conhecido no
mundo todo por ter sido desrespeitado por uma moça que não o reconheceu como
Deus, tentaram uma delação premiada, o que não foi acatada por Jesus.
Outros recursos de significado reivindicatório,
devido a particularidades regionais, foram encaminhados a outros tribunais de
igual valor, para serem julgados pelos pares de Jesus. Muitos esperavam, por
exemplo, que Maomé teria maior rigor com seus réus do que Jesus, e não, ele e
os outros profetas usaram os mesmos critérios usados por Jesus.
Oaldo, com os olhos bem arregalados, marejados e com
feições sérias percebe que viverá o Milênio no reino do Senhor.
Com o distanciamento dos
condenados, Jesus vai para o meio do povo conversar de perto com cada um dos
seus súditos. Isso parece impossível, mas ele se multiplica no mundo todo para
que cada pessoa possa falar pessoalmente com ele. Na vez de Oaldo, fica enfim esclarecido, por que ele é
salvo sem ser um santo e nunca ter seguido alguma religião. — Que privilégio é este que tenho? — Pergunta
a Jesus. — Você talvez não percebeu, mas por mim
nada passa, nada acontece sem que eu saiba. Hoje, você é um homem sem pecado!
Passou por várias provações e tentações e não caiu mais. Os pecados que outrora
cometeste você pediu perdão, isso foi um ato de humildade que foi reconhecido
por mim.
— Mas mestre! Não me sinto superior a
ninguém nem melhor... nem me sinto santo. Como isso pode acontecer? Jesus dá uma risada e completa. — Quem disse que para viver no Paraíso
eternamente precisa ser santo ou superior aos outros? É só não ter pecado! Veja
o caso dos animais! — A propósito, tenho que fazer algumas
atualizações nos sete pecados capitais e você será o escriba destes adendos na
Bíblia. Mantenha seu iphone sempre com a bateria carregada para não perder de
anotar as novas parábolas.
Oaldo viveu até os 111 anos.
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