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V - Aham, tô sabendo de tudo

Aham, tô sabendo de tudo

 Não poderia ser diferente, é só felicidade. - Em uma roda de chimarrão Getúlio e Trajano passam a cuia para dois novatos.  Por nunca terem experimentado do amargo, eles fazem o que todos fazem ao tomar pela primeira vez, uma enrugável careta. Aí, um disse e o outro concordou:
 " Em vida, escutei algumas vezes que, o chimarrão tem sabor amargo e, de amargo, já basta a vida." Hahahahahhaiii! Getúlio riu e prosseguiu: "E agora?"  Agora, diria sabor de felicidade com alegria, com pitada de amor, com carinho, regado a prazer, tudo o que se tem de direito!
 Nisso, Trajano, com a voz modificada por um catarro na garganta, fala sobre uma vontade oculta que ainda não a tinha manifestado para o companheiro Getúlio. "Eu queria viajar! O que sei sobre a era da tribulação é só o que você me contou e o que li no Apocalipse. Eu quero mais, quero vivenciar o momento."
 Um pouco surpreso e com um arzinho de contrariedade, Getúlio coloca para o Trajano... - Não sabia deste seu desejo, o que não é o meu, se soubesse antes o teria exposto para o Oaldo.
   Nos momentos de pausa para o mate, como numa terapia de grupo, um fala e os outros escutam. E quem fala é o que está com a cuia na mão, e, os outros, escutam educadamente ansiosos para poder falar também, isso aqui no Céu não poderia ser diferente. Getúlio agora com  a posse da cuia prossegue: -- Tenho certeza que será de um prazer enorme para o Oaldo te levar para essa época que foi a mais tribulada de todos os tempos! -- Dá uma baita chupada na bomba de prata e prossegue: Não vou junto, prefiro Copacabana!
   Agora, Oaldo sabendo do desejo não mais oculto de Trajano, não se fez de rogado, vai logo programando o retorno aos arrepiantes sete anos.
Nuvem encoberta
E assim, se foram...
   Instantaneamente estão em Roma no ano de 2020. O momento é de arrebatamento, tornando, o que Trajano havia lido recentemente no Apocalipse, uma realidade para sua visão. Oaldo vendo tudo pela segunda vez, em nada se surpreendeu. Lembrou que anteriormente ele estava caminhando no Parque Barigui com um amigo que tinha sido arrebatado.  "Bom, está só começando! E os sete anos de tribulação, crescerão em horrores, até a segunda volta de Cristo", diz Oaldo.
   Roma, uma cidade abarrotada de carros, congestionou total. Eles não se movem pra frente e nem pra trás. Trajano está empolgado olhando tudo o que pode se ver de dentro do táxi. Mas conversar é impossível! O motorista fala gritando, nervosamente, não sei o que nem para quem. Uma mistura de pessoas voando e caos no transito.  Eles resolvem andar a pé, e de onde estão, avistam o Coliseu. Trajano exclama em latim: "porca madonna! Quod illi ad Coliseum?" E continua, "Vespasiano o construiu para que fosse eterno!"

   Passam-se três anos, tudo muito rápido, quando o antigo imperador presencia, o que pode se dizer de "mais uma atribulada incivilidade". Terroristas do grupo cristão, "Peoples Temple", braço armado do antigo "Caças as Bruxas", implodem o que restou do anfiteatro Coliseu, não sobrando pedra sobre pedra, apenas, areia e cascalho. Os fanáticos simpatizantes dos terroristas comemoraram a derrubada nas redes sociais. Comentários do tipo: "Cai, um dos últimos pilares anti-cristo!", "Até que enfim!". Também, a grosseria cacofonizada reinou no Facebook: "bomba neles", "morte aos pagãos". Não é para menos que Trajano desmaiou, desabando sobre uma bancada de souvenir, respingando chaveirosinhos e ímãs de geladeira para todos os lados. Não se machucou devido a providência divina, levantou-se rapidamente se recompondo e tentando explicar o ocorrido.
 "Me desculpem., foi uma crise de labirintite".
 Oaldo triste  com o acontecimento terrorista, pergunta ao amigo se ele quer voltar para o seu tempo escolhido, e Trajano discorda com o ar de missão inacabada.

   Satanás ficou sabendo do ilustre visitante e o procurou. "Estou precisando alguém como você para me assessorar!" Trajano, sem saber direito o que responder, mostrou-se meio acabrunhado. Indeciso... olhou para Oaldo e sem falar, o fez entender o dilema. Será que aceitando seria mais conveniente do que rejeitando a proposta? Oaldo devolveu o olhar cintilando uma resposta positiva para seu celestial companheiro.
   Trajano agora faz parte do primeiro escalão do governo de Satanás. Mas durou pouco, pois em sua cabeça, achava que poderia amortecer os impactos diabólicos das determinações do chefe no povo. E o capetão, achava que estava corrompendo o inimigo e degenerando uma importante figura do reino de Deus.

   Com o arrebatamento dos justos a coisa ficou muito desproporcional.  Cada dia que passa tudo fica  pior. Criminalidade cada vez maior, corrupção idem, impropérios e infâmias são só o que se encontra nos sites de relacionamentos. A mídia, então, calunia a torto e a direito, aliás, só tem calúnias e intrigas, bem a gosto do gramunhão. Chegou em um ponto que os países estavam literalmente em pé de guerra. Foi nesse momento que Trajano desistiu, "Vamos dar no pé daqui!" E Oaldo só via a hora de se mandar, mesmo porque, já tinha passado por isso e não sentia saudades nenhuma.

   Aliviados, estão de volta aos bons tempos. Engraçado,  Getúlio continua com a cuia na mão?!
   "Tedros, você aqui?" Surpreende-se Oaldo. Selinho pra lá, selinho pra cá e Tedros se justifica. "Sim, estamos achando que você nos abandonou!", brincou. "Ai-Lin está cobrando o passeio no Jardim Botânico da Lua, prometido faz uma infinidade de tempo",  prossegue Tedros,  "porque você não aproveita e convida seus amigos de Roma para ir junto conosco?"
   Antes de confirmar qualquer coisa, Trajano quer saber mais sobre o passeio e pergunta:" O que tem lá para se comer? Oaldo, que conhece bem o Jardim, pois o administrador é seu amigo, respondeu em detalhes: Tem araçás, jabuticabas, cerejas, goiabas, pitangas, bergamotas, laranjas, limões, mangas. Também tem  couve, hortelã, cebolinhas, pimentões, alfaces, manjeronas, e, não lembro mais.
   Em um "poof!" lá se vão eles.

   " Maomé e Jesus acabaram de sair!", disse Rodolfo para os amigos recém chegados.  "E Jesus pediu para você procura-lo para dar continuidade no projeto."
" Tô sabendo!", respondeu Oaldo.
 Um pouco sem jeito, Trajano pergunta: "que projeto é esse, posso saber?" --
"Of course, meu caro Watson!", responde Rodolfo.
 Trata-se de novas parábolas pronunciadas por Jesus. Estamos lançando o Novíssimo Testamento em que ele e outros profetas estão se manifestando de uma maneira mais adequada aos tempos eternos. É diferente do código de ética que está sendo elaborado também."
E, (torce os lábios e o nariz por consequência) me escolheram para ser o escriba, tudo por ter mais facilidade com o "tap" no Iphone 8, o que é uma imensa honra para mim; também por crer nos opostos de minhas crendices.

   Enquanto conversam, caminham pelas trilhas sinuosas do jardim e param diante da "escada do Luca"; uma poda em uma árvore feita para facilitar a subida nela por uma criança. "É para o meu neto!"  disse Rodolfo.
   O jardim está dividido por linhas imaginárias em sete recantos: a "Luca´s ladder", "Trilha da Julia", "Garagem da Flávia", "Horta orgânica", "Repouso do Guerreiro", "Recanto do Amor", "Espaço de Manobras"e a terraplanagem do "Caminho de Thiago".
 Cada recanto, por sua vez, divide-se em recantinhos com motivações próprias e funcionais. A garagem da Flávia é um abrigo com proteção do sol sob duas arvoretas, uma pitangueira (Eugenia uniflora) e um alfeneiro-da-china (Ligustrum sinense);
 Na Horta orgânica encontram-se verduras, temperos, morangos e chás; no restante os próprios nomes são autoexplicativos.

   -- E nada da Ai-Lin! Garanto que ela está vindo naqueles velhos táxis movidos a fusão nuclear, demora mais, porém, ela não gosta de se locomover a poofs. -- disse Oaldo.
   Tedros, dirigindo-se ao administrador, indaga sobre o pequeno santuário em que Nossa Senhora está estilizada em uma imagem de resina: " Por que a imagem se estamos vivendo sob o governo de Jesus e podemos falar com a Maria pessoalmente, quando quisermos?"
  "Por puro legado", responde Rodolfo. Não devemos esquecer que foi através das imagens materiais, que no passado falávamos com as nossas divindades. Assim como, ainda hoje, nossos templos guardam as relíquias históricas da construção da fé.

   Anoitecendo chega Ai-Lin se explicando... "Eu não poderia deixar de dar uma passadinha na feira, aquela em frente ao salão de artes, e comprar algumas lembrancinhas. Lembra-se da outra vez? Trouxe esta camiseta que você está usando. Hoje, só comprei pro Rodolfo e pra Christina".

   Rodolfo agradeceu muito a tesoura de poda em cromo vanadium, assim como, a Christina, que ganhou um liquidificador wireless com lâminas de tungstênio.

   No horizonte, a Terra esta se pondo, porém o dia continua.
   Christina, enquanto prepara um suco de butiá com o presente novo, indaga à Ai-Lin sobre suas vestes e seu penteado do século XII. - É o que mais gosto de vestir! -- Respondeu Ai-Lin.

   Mesmo sendo budista Ai-Lin nunca raspou seus cabelos, preferindo os penteados de sua admirada rainha. Penteados que causam muitos espantos por onde ela passa. Pôde, assim mesmo, passear pelos caminhos do JBL (Jardim Botânico da Lua) em que os arcos de flores são altos suficientes para isso. Ela comentou a falta de um vitex no jardim, sua planta favorita, pois a faz lembrar de sua infância na Mongólia.























IV - O futuro a Deus pertence



P
oucos anos antes do "Fim dos Tempos", o esplendor tecnológico alcançava o inimaginável para quem viveu antes de 2020; bólidos de designer ao gosto de cada freguês trafegam vertical e horizontalmente pelas cidades e em viagens espaciais. É raro ver algum veículo parecido com outro, pois são feitos por impressoras 4d em projetos individuais. Essas notáveis impressoras, facilitam em muito a aquisição de todo o tipo de bens duráveis. Adquire-se exatamente o que se quer, na dimensão que necessita. A quarta dimensão, a hipotenusa nêutica[1], dá a segurança necessária, para o que parece ser um caótico trânsito no espaço.

   Bem antes disso, no século XXIV, novas descobertas revolucionaram o transporte público e de cargas com as descobertas no controle da gravidade. Os condutos antigravitacionais passaram a proporcionar facilidades nas comunicações físicas entre a terra e o sistema solar, a ausência de gravidade no interior dos mesmos reduzia a quase zero a necessidade de consumo de combustível, praticamente só para descolar da inércia e a ela voltar. Duzentos anos depois, estes tubos, ainda eram usados, mas já não havia mais à necessidade para eles, pois o avanço na tecnologia do controle da gravidade chegou substancialmente aos veículos. Talvez, continuavam a usar as tubovias por uma espécie de saudosismo do tipo, "antigamente é que era bom".

   A essa altura, com a adoção do sistema AFC III (Autonomous Flight Control – terceira geração), que até então, era de uso exclusivo dos Grandes Mestres; melhorou em muito a mobilidade e a comodidade das viagens interplanetárias para passageiros e, principalmente, transporte de mercadorias como alimentos in naturas.

   Foi no milênio que ocorreram as maiores descobertas científicas em todas as áreas. Período, privilegiado pela ausência de satanás, fez o ser humano avançar sobre o conhecimento e a tecnologia, como nunca tinha ocorrido antes da Tribulação. A ausência de guerras, crimes, falsidades, hipocrisias, egocentrismos, etc, acrescentaram sucesso em cima de sucesso na construção da vida melhor, antes mesmo da eternidade. Os investimentos que no passado existiam para a defesa e segurança dos países são direcionados para a prosperidade, num efeito geométrico de novas descobertas científicas.

   Lá pelo início do século XXII, mais precisamente no ano de 2108, no Centro Tecnológico de Pretória, descobre-se a transmissão de energia sem fio WPTHV “Wireless Power Transmission” de alta voltagem  que acabou por definitivo com uso de fios e cabos de condução elétrica. Isso fez, nessa nova era da humanidade, com que todos os veículos fossem movidos a energia elétrica, também, aviões, carros, barcos e submarinos ficaram uma coisa só; somente mudando a estética, com variedades de estilo e gosto de cada cliente. Ainda persistiu os motores hidrogênicos por mais de um século, mesmo obsoleto, os fiéis usuários deste tipo de combustível, formavam grupos nas antigas redes sociais para conversarem sobre as "grandiosidades" do hidrogênio líquido. Sem as pesadas baterias, os veículos ficaram mais leves e ágeis, possibilitando deslocamentos verticais e horizontais, cada vez mais, em curto espaço de tempo. Um contador de energia consumida, contabiliza o consumo, dispensando qualquer preocupação com abastecimento.

   Ⓞaldo Relkkoff nasceu em 1950 e, passou pelos sete anos de Tribulação e morreu no Milênio aos 111 anos de idade, e hoje, na eternidade, adora recordar o passado. Reencarnado de um filósofo inexpressível do século XV, de mesmo nome, solta espontaneamente suas pérolas nos mais variados momentos. Não sabe dizer como este fenômeno ocorre, talvez, da sua natureza exótica de ser.

   Os enunciados das escrituras de aldo em que estão registradas as palavras de Jesus Cristo, ele sempre coloca no início, “ A quem interessar possa”. No versículo 3:11 do Novíssimo Testamento, aldo alerta... “ A quem interessar possa, e em verdade em verdade vos digo, é mais fácil uma agulha furar o núcleo de um átomo do que um buraco ser a entrada do Paraíso.” Vejam a tamanha sabedoria de Jesus e o quanto isto quer dizer.

   No ano de 2555 (528d.T.)[2], aldo, sentado em uma praça da cidade de Martin Luther King, aguarda a chegada de i-Lin vinda da Mongólia. O fato de a cidade "Demartin", como é conhecida, estar à beira de um enorme vulcão, não intranquiliza os residentes quanto a riscos de catástrofes. Nossos Mestres nos protegem. Sempre dizem eles.

   Os martipolitanos[3] levam uma vida igual aos terráqueos, mesmo porque, conservam as díspares tradições trazidas pelos imigrantes. Lá pelos anos de 2250, quando, incentivados pelos governantes, surgiram pequenas colônias compactadas aqui na região da Arabia Terra. No início da colonização, toda a água consumida pelos imigrantes era trazida da Terra, isso a um custo elevadíssimo; a reciclagem de água foi se desenvolvendo a um ponto que até a água dos sanitários passaram a ser  recicladas, separando-se em água potável e fertilizantes. Neste ano, em que ocorre este grande evento no estádio Zezé Callo, o Martirão, não mais trazem água da Terra, o planeta é autossuficiente em água, modernos sistemas de dessalinização iônica, da água retirada do subsolo, atende a demanda. Marte é sem dúvida, um paraíso exótico e aprazível. Os animais, que as pessoas trouxeram para cá, são todos adotados, decorando o céu de Marte de um belo panorama, em que, gatos e cachorros dividem o espaço com os pássaros. Quem adora passear por aqui e, na companhia de Maomé, é Jesus Cristo, eles juntos, fazem uma maratona pela cidade o que trás uma alegria enorme para os martipolitanos; no ano passado, quando a cidade sediou os jogos olímpicos, Jesus teve que dividir o ouro com Buda nos 100 metros raso. A medalha de ouro no lançamento de dardo ficou com Maomé e a de prata com Moisés. Os atletas eram todos egrégios importantes e de poder em nosso mundo, em todos os tempos. Ninguém dava credibilidade ao Confúcio no levantamento de peso, visto seu franzino corpo, mas “detonou”, levantando os 411 kg, arrancando aplausos extasiados do público.

   Todos os eventos que ocorrem na Terra eles são feitos aqui também, até o teutônico oktoberfest é muito concorrido. Jesus não perde um evento, mesmo porque, é uma boa oportunidade de encontrar os outros profetas num momento de descontração. No último oktoberfest ele levou seu próprio vinho, pois o prefere ao invés de cerveja, era um Château Sungod produzido na China, dividiu-o com Trajanos e Getúlio Vargas, outros dois apreciadores dos bons vinhos e, que também não perdem nenhum evento em Marte.

   Ⓐi-Lin acaba de ligar avisando que ainda vai levar uma hora para chegar, pois, innea e liver estão juntos e deram uma paradinha na lua para ver a mostra de Monet que está exposta no imponente salão de artes Neil Armstrong.

   A humanidade foi agraciada com duas grandes revoluções tecnológicas: a revolução industrial, no período pré-tribulação, e a descoberta da WPTHV. Os veículos de transportes, por não precisarem parar em postos, para serem abastecidos de energia, os dotaram de uma enorme autonomia e potência. O salto tecnológico foi tão grande que tornou as viagens espaciais em passeios populares ao alcance de todos. Na sequencia evolutiva da tecnologia, a impressora 4D multimaterial, proporcionou a todos, o fornecimento de carros das mais variadas formas para qualquer cidade do sistema solar.  Somente, as cidades orbitais não a possuem.

   Passado uma hora e meia, do telefonema de i-Lin, chegaram os três. Liberaram o taxi, este, um veículo autodirigível, como todos os outros, e abraçaram aldo com o tradicional selinho estalado e acompanhado de um sonoro gemido de prazer. Eles podem esquecer de cumprimentar, mas do selinho, ninguém abre mão.

   Às vezes, acontece de me emocionar quando ando de carro, pois me faz lembrar, do meu trabalho e da minha primeira morte... Disse liver, que morreu juntamente com a innea, em um trágico acidente no ano de 2019.

   Ⓐi-Lin trouxe um presente para aldo.
Adivinhe o que é? Segurando a bolsa contra o peito. Hmmm... um Le Male![4]
- Não!... Abra! Entregando o pacote a aldo que adorou a camiseta com a estampa da torre Laika que ela comprou de uma feirante, no mar da Tranquilidade.
Torre Laika
Essa torre foi dada pelos russos aos primeiros imigrantes que se estabeleceram na lua e, é feita de alumínio  Disse i-Lin.

   Em 2034, chega a primeira leva de emigrantes russos que se dispuseram a ficar morando na estação lunar. Ainda não existiam os motores de fusão nuclear movidos à antimatéria, o que tornou a vida destes pioneiros, bastante difícil, aliás, esses motores só foram popularizados em 2200 com a intensificação do tráfego entre as plataformas espaciais.

   Ⓞaldo, vestiu a camiseta por cima da que estava usando, não gosta de carregar nada nas mãos. innea tirou da bolsa um potinho com um doce, tradicional na lua, feito com frutas negriz cristalizadas e deu para aldo. Trouxe isso para você não ficar aborrecido pelo nosso atraso.

    Bem! Vamos ao Martirão? Sim... Sim... Sim.

   O Martirão é um estádio com capacidade para 200 mil pessoas. O nome, Zezé Callo é uma homenagem ao maior craque de futebollover de todos os tempos, foi campeão mundial nas copas de 2290, 2294, 2298 e 2302, também, o jogador que mais marcou gols na história da Copa do Mundo desta modalidade. O estádio flutua numa altura de aproximadamente 100 metros, sobre uma área marginal a Martinópolis. Desta vez, o evento trata-se de um cerimonial em que vários profetas se manifestarão, de maneira a consolidar o que já foi conquistado nestes 528 anos de Milênio, como a paz mundial e a erradicação do egoísmo. O tema é “Cinco séculos sem ódio”. Pensar que, seria um monótono relatório de bondades, é menosprezar a retórica eloquente dos nossos líderes que reinam no nosso universo divino.

   Acompanhando o fluxo das pessoas que, cadenciadamente, estão se dirigindo para lá, os quatros comentam sobre a diversidade de nacionalidades, religiões, culturas, raças, idades e dos tempos que eles viveram.  Aquele casal ali deve ser do período inicial do neolítico. Disse innea. Realmente, o casal e um filho, vêm de um tempo em que se iniciaram as comunidades sedentárias. Pequenas aldeias se formavam e se protegiam dos inimigos. Cultivavam alguns alimentos e domesticavam animais. Passaram a enterrar os seus mortos e pedir por suas almas.

   Mais a frente, um judeu ortodoxo, vestido a rigor, caminha ao lado de uma humilde pária hindu chamada udhira. Os dois conversam: Por que vocês são chamadas de intocáveis? Pergunta Eijah para udhira. Hoje, em algum momento das apresentações, Sidarta Gautama irá falar sobre isso, ninguém melhor do que ele para satisfazer sua curiosidade... Mas, pode me tocar sim. E, os dois seguem a multidão de mãos dadas.

   A fila anda, e nossos quatros figurantes, enquanto caminham fazem algumas especulações sobre os palestrantes. Acho que o primeiro a falar ao público é Abraão, se for por ordem alfabética, e tenho algumas coisinhas para perguntar a ele. Falou aldo, que continua: Mas, o ponto alto, é sem dúvida, Jesus.

   Dentro do estádio, já quase lotado, existe um palco redondo no centro do gramado redondo, observa-se também, que o campo está com marcações para futebollover. Aliás, aqui em Marte, este esporte é o mais apreciado, uma evolução do antigo futebol. Com o desprestígio dos conceitos dualistas, cada vez mais foi se consolidando a trilogia das coisas e, no futebollover, não poderia ser diferente.

   Com aplausos vibrantes e unânimes, o público festeja a chegada dos maiores ídolos proféticos e mensageiros que o mundo já teve. Descem dos Céus, rodeados por anjos, em trajes típicos de seus tempos, Jesus Cristo, Muhammed, Abraão, Bahá’u’lláh, Buda, Krishna. Nas aparições públicas em estádios ou outros lugares de grandes concentrações, eles sempre se apresentam com seus trajes sagrados e consagrados pelos fieis. No dia a dia eles são muitos descontraídos e se vestem conforme a época em que estão.

   O primeiro a falar é Bahá’u’lláh que diz: “Não se vanglorie o homem em amar a sua pátria, antes tenha ele glória em amar a sua espécie. O universo é um só país e os seres humanos são seus cidadãos.” Todos ficam de pé e o aplaudem, os mais animados gritam “Aleluia!... Aleluia!”, outros, em coro, “o universo é meu país”, estes são conservadores e não aceitam, em hipótese alguma, a divisão do universo.

   Perguntas começam a pipocar pela santificada plateia, estas perguntas, são encaminhadas aos gloriosos palestrantes pelos anjos que fazem divertidos trajetos. Uma pergunta, por muitos, feita a Jesus foi se o Deus Pai está satisfeito com a evolução tecnológica que seu reino tomou. Ele respondeu: Meus irmãos! É com um imenso prazer, estar aqui com todos vocês e poder transmitir a sabedoria de Deus Pai... Com o afastamento de Satanás, confinado à sua mediocridade, é elogiável o desenvolvimento conquistado por todos vocês, sem exceção, em todas as áreas, ele está não somente satisfeito, mas sim, orgulhoso de tudo e de todos. Prossegue Jesus... “Em especial, adoro visitar as plataformas espaciais para ver o desenvolvimento das horticulturas; é fantástico o tamanho que chegam as abóboras, já vi uma que pesava 25.000 siclos, ou melhor, 300 kg aproximadamente”.

   Um beduíno, com seu turbante branco, pergunta a Maomé se Allah poderia explicar melhor sobre as 72 huris (virgens), em recompensa por tudo quanto foi feito em vida. Maomé sobe em um lindo tapete voador, com franjas e passamanarias de seda e se aproxima do beduíno. Sua voz entoa a todos os presentes, mas a aproximação ao interlocutor dava valorização à pergunta.
Se, na sua busca dos prazeres, encontrares, as hures que estão procurando prazeres com você, a benção cobrirá a todos.

   Após os aplausos a Maomé, Sidarta Gautama se eleva a um plano mais alto e, humildemente, pede a palavra. Sua voz, suavemente aumenta, alcança todos os ouvidos, enquanto, o som da antiga música  “We Are The World”, diminui. Quero,... Primeiramente, satisfazer a pergunta que Eijah fez a udhira enquanto entravam em nosso estádio. Também, homenageá-la e indicá-la para o prêmio Nobel da Paz deste ano. Prossegue Buda: udhira... fazia parte dos párias, os excluídos das inflexíveis castas da Índia e, por toda sua vida terrena, faziam os mais humilhantes serviços em troca de alguma comida. Eram chamados de “intocáveis” pelo mau cheiro que exalavam e pelas doenças que podiam transmitir. udhira era catadora de fezes nos cantos das casas, carregava um balde e uma pazinha como ferramenta de seu trabalho, com isso, ganhava o pão de cada dia. Meu pedido de homenagem é para todos os “párias” do mundo, qual seja o nome dado a eles, intocáveis, dalith, haryens, cubeiros, catadores de lixo ou escravos que viveram e seguiram a lei dos justos antes da segunda vinda de Jesus.

   Jesus, neste encontro, não está de calças jeans amarela e camisa branca fechada nos punhos, figurino usual do Senhor. Está vestido com sua túnica branca igual a que usava na sua primeira vinda. Veio do Céu rodeado de anjos que harmonicamente soavam suas trompas e trompetes com um canto coral entoando “Grandioso És Tu!”.

   Oaldo tinha 70 anos quando presenciou a volta de Cristo em Jerusalém. Mesmo estando no Brasil ele presenciou, assim como todos presenciaram, em todas as paragens do mundo. Pois, o Salvador estava em todos os lugares ao mesmo tempo.

   Ainda de mãos dadas, Eijah e udhira assistem, com emoção estampada nos rostos, a homenagem de Buda para udhira. Enquanto, Eijah cochicha no ouvido dela: Estou honrado com a sua companhia.

   Aproveitando o sucesso de presença ao estádio, Maomé que é um entusiasta do futebollover, e também técnico do Real Arabian, atual campeão interclube para convidar os presentes e familiares a assistirem no dia 20 a partida entre o seu time versus Flamengo, versus Internacional futebollover club.





[1] A reta que liga vértices opostos de um paralelepípedo.
[2] Depois da Tribulação (período Milênio).
[3] Nascidos na cidade de Martin Luther King em Marte.
[4] Perfume de Jean Paul Gaultier.

III - Foram sete anos revolucionários


O
 Inverno, neste agosto de 2020, está chuvoso e frio em Curitiba, mais do que outros invernos, e Oaldo em visita ao seu ex-colega petroleiro e amigo Rodolfo, não imagina o que está por vir; os dois, caminham com seus guarda-chuvas na pista de cooper do parque Barigui, relembrando coisas da REPAR e dando boas rizadas. O assunto era as greves e fura-greves dos anos oitenta,  quando, num repentino clarão, mais do que um relâmpago, uma luminância  se abre entre a terra e o céu, corpos íntegros brotam do chão e se alinham em direção ao céu pelo caminho de brilho em um fluxo intenso de ressuscitados.  Na sequência, pessoas vivas que estão no parque também seguem o arrebatamento, junto a estes, o amigo de Oaldo, subitamente é agarrado pela sua amada que surge do nada e, sem se despedirem, levitam ao caminho luminoso para irem viver em glória com o Senhor.

   Sem entender direito o que estava acontecendo, Oaldo junta-se a um grupo de pasmos observadores que se aglomeraram em um descampado de um estacionamento. “Coisa de Deus!” ecoa no silêncio o dito por um descansado mendigo. Todos entendem assim e ninguém discorda do mendicante que alguns o conhecem, e sabem de seu passado hippie holístico.

   Oaldo vai para o hotel, e lá, a conversa é uma só... o arrebatamento. Na tela da televisão Ultra HD de 8k, instalada no hall do Barigui Park Hotel, o assunto é também o mesmo: cenas dos cemitérios e de lugares onde ocorreu o fenômeno divino, num desfile de imagens impressionantes. Numa delas, em Jerusalém, o apresentador solta-se de seus apetrechos de comunicação e sobe ao Céu frente às câmeras, cenas como essa se repetiram por várias vezes durante o resto do dia. O arrebatamento ocorreu no mundo inteiro, mas Jerusalém foi especial, pois, como já era esperado por todos, os fluxos de justos agraciados foi muito intenso, na maioria dos cemitérios e tumbas, algumas delas desconhecidas dos habitantes atuais. Lá, os sinais do fim dos tempos eram mais explícitos e havia certa ansiedade por este momento.

   Canais sensacionalistas e tendenciosos selecionam e  divulgam imagens inusitadas e até bizarras de fatos flagrados durante  a subida aos Céus. Um santo foi pego de surpresa enquanto estava “nos finalmente” do ato sexual com sua digníssima senhora. Enquanto sua assunção ocorre frente às câmeras, ele nu e só, fica em movimentos pélvico repetitivos lamentando que sua parceira não tivesse a mesma sorte de ir ao convívio do Senhor. Enquanto isso, os canais de televisão mais sérios, que se recusam a participar do grupo “imprensa golpista”, divulgam um cenário mais serio e paradisíaco com cânticos gregorianos, apropriado para este momento tão importante. Também, entrevistam as pessoas que num movimento de última hora abarrotam os Templos, Igrejas e locais sagrados para tentar, com um “jeitinho brasileiro”, uma vaga entre os arrebatados e, até mesmo, pleitear uma desistência. Religiosos, não escolhidos para o convívio no Céu, dão variadas explicações para justificar o ocorrido, sendo a mais comum a de que ficaram aqui para continuar salvando as pessoas dos pecados mundanos que continuarão ocorrendo durante esses sete anos de tribulação.

    É uma fase de transição! Disse um ancião, conhecidíssimo  bispo da Igreja Universal... disse mais: “Nós, que seremos arrebatados por último seremos arrebatados melhor”. O que não tranquilizou os fiéis rejeitados que neste momento lotam o reluzente Templo de Salomão no Rio de Janeiro. Outros, apartados de seus parentes e amigos, dizem não acreditar no ocorrido, que tudo, é invenção da mídia sensacionalista e, boatos, como o “Evo sabia de tudo” tomou conta do Fightface da Grand Bolivia.

   Passado o fenômeno celestial do arrebatamento, devagarzinho, os que ficaram começam a cair na realidade, inclusive Oaldo que tenta se posicionar nos fatos, assistindo as entrevistas ao vivo que ocorrem com os excluídos. Fazer o quê? Pensou Oaldo...   Levar a vida que tinha antes, apenas tomar mais cuidado com os viventes, acho, que a proporção de justos na população deve ter caído muito.

   E realmente, a merda está feita. O que estava ruim, está pior; juízes sistematicamente absolvem criminosos e os presídios se esvaziam. Governantes virando impiedosos ditadores e o caos se instalando em todos os lugares. Novos métodos de torturas são inventados como o "satânico beija-flor" e a "imolação donzel".

   Nestes sete anos o mundo parou... pior! Retrocedeu.

   A volta do Senhor passa a ser implorada pelas minorias de novos justos. Estes formam grupos pela principal rede social, o Fightface, site que passou a ser a coqueluche do momento, depois que o Facebook quebrou em uma espetacular queda de ações carreada pelas PETR4 que despencaram para R$3,66 por ação, ao que possa, só ser explicável pela cabala.

   No Fightface, se contrapondo aos poucos grupos de justos, se proliferam, terroristas em planejamento de ataques a prédios públicos, escolas, hospitais, asilos de idosos, orfanatos, festinhas de aniversários, maternidades e chás de bebê, e, na polícia, que deveria combater os terroristas, muitos policiais, se solidarizavam a eles nas passeatas de rua, portando cartazes "Quanto pior... melhor".

   No Brasil e na política, a ditadura voltou e, no segundo ano da tribulação, o governo está constituído por poucos ministérios, o que não deveria ser ruim, mas é para concentrar mais poder aos governantes. No Ministério da Justiça está empoçado (de poço mesmo) um velho juiz conhecido de todos, o que já mostrou iluminada atuação no campo da justiça. Sempre que alguém põe em dúvida sua divindade ele manda prender e arrebentar. Graças a Deus, hoje, ninguém mais duvida deste juiz, que ele é onipresente, onipotente e onisciente.

   No Ministério da Fazenda, como guardador do tesouro nacional e condutor da política econômica do governo está o Doutoríssimo Marcos Valério, hoje com 63 anos, e mais maduro após um período em que “puxou cadeia” inocentemente, pelo menos foi o que se concluiu no segundo julgamento da ação 470.

   Segundo as apurações e diligências feitas pela CPI liderada pelo presidente do congresso, Ilustríssimo, Doutoríssimo Satanás, foi constatado que estão ocorrendo diversas tentativas de golpe, com o objetivo explícito de implantar no país, a volta da democracia.
   Cabe aqui colocar, que por decreto do AI-18, que dá sequencia aos atos institucionais iniciados em 1964, fica determinado a regulamentação dos títulos honoríficos de nossos mandantes indicados para atuar na lei e na ordem de nosso país. 
Primeiro e único artigo: Todos os digníssimos e amadíssimos representantes do povo deverão receber os seguintes títulos nos seus prenomes.

  1. Presidente da República Popular do Brazil. (Em um detalhe de conservadorismo voltamos ao "z”) Título pré-nominal Presidencialíssimo Por motivos de segurança nacional, o nome do mais alto mandatário é secreto.
  2. Presidente do Congresso e Ministérios da República Popular do Brazil (exceto MJ): Doutoríssimo
  3. Ministério da Justiça: Santificado
   A volta do Senhor, esperada por tantos e ignorada pelos maus, incrédulos e muitos governantes, um dia chegou, pois tinham-se passados os sete anos do arrebatamento; ouve-se uma “trombetada” harmônica, escutada em todos os cantos da terra, a intensidade do som, só não foi maior por pedido de Deus, que assim quis, limitando em 80 decibéis com a finalidade de proteger os tímpanos sensíveis dos cachorros. Mesmo assim, alguns cachorros ainda uivaram com dores nos ouvidos. No mesmo pedido, ficou a solicitação para que a recepção em terra não usassem fogos de artifícios em respeito aos idosos e bebês que se assustam com os estampidos. Anjos cobrem o céu de branco, eles não possuem asas conforme eram imaginados, mas voam como colibris, suas sobrancelhas loiríssimas e longas tremulam como serpentinas ao vento.

   Dois anjos munidos, um com trompete e outro com trompa, um ao lado do outro, pedem passagem entre a multidão que congestiona todos os espaços nas proximidades da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém. Multidão esta, que se espreme no largo repleto de jornalistas com suas câmeras de televisão cobrindo os acontecimentos, nada é perdido por eles... são muitos e de todos os cantos do mundo. Imagens transmitidas dos helicópteros mostram uma aglomeração estimada de mais de três milhões de pessoas, isso na redondeza da Basílica.

   Oaldo está ali também, quer ser um dos primeiros a ver a triunfal chegada de Jesus.

   O caminho aberto pelos anjos ficou ladeado pelas pessoas que aguardam a vinda tão esperada, surgem os vendedores de água e cerveja faturando uma graninha extra. Crianças na garupa dos pais acenam bandeirinhas brancas, deficientes físicos e idosos ficam mais a frente do povão, e claro, Oaldo com seus 77 anos está lá com uma latinha de cerveja na mão faz um empurra-empurra para se garantir na primeira fila, afinal de contas, como idoso deve ter algum privilégio. Privilégio não... direito adquirido.

   Jesus não é de fazer o povo esperar e surge como um ponto no horizonte que começa a tomar forma com a aproximação, os anjos vibram, tremulam, contagiando o público de imensa alegria. A aproximação do Senhor faz com que as pessoas se ajoelham e queiram beijar suas mãos em um frenesi de adoração. Muitos fingidos, no meio dos fiéis, fazem cenas exageradas de clamor ardente, se jogam no chão e gritam tentando chamar a atenção de Jesus. Não há necessidade de alerta para o Salvador, ele percebe a diferença entre a fé verdadeira e aquela “fé” oportunista, Jesus espevita com um ar de desdém para os falsos fieis e segue em frente.
   
   Do nada surge um imponente altar decorado com folhas de palma e flores de aboboreira, no centro dele um trono convidativo para Jesus sentar e, assim, iniciar um julgamento digno de uma divindade. “Está chegando a hora da separação dos triguistas dos joistas.”  Disse, em voz pausada e melódica um próximo a Jesus, parecendo ser um porta-voz do Senhor ou um chefe cerimonial. Um burburinho toma conta da maioria das pessoas, se olham entre si e cochicham comentando sobre a aparência de Jesus. Esperavam alguém conforme o desenho de Warner Sallman, que em 1924 o fez de olhos azuis e cabelos longos.  Mas não. Lá estava, sentado no trono um homem moreno de olhos castanhos, vestindo-se com roupa comum, as calças talvez um pouco extravagante devido à cor “amarelo Vaticano”.

   Incrível! Como isso pode acontecer?... Um grupo de mascarados e vestidos de preto inicia um quebra-quebra na redondeza, carros são virados e vitrines quebradas com pedradas e pauladas, mesmo assim, os justos nem sequer olham para trás e continuam de olhos vidrados em Cristo. O único constrangimento momentâneo foi uma vaia produzida por um grupo que estava entre os mascarados de preto e os fiéis, mais tarde explicado de várias maneiras pela mídia televisiva. A explicação que mais convenceu foi a de que, o desagrado foi produzido por um grupelho de “filhinhos de papai” querendo aparecer portando cartazes como: “Não vai ter Julgamento”, “Queremos padrão Céu”, etc.
 
   Os anjos silenciam seus metais de sopro e Jesus levanta-se de seu trono para proferir o mais esperado discurso dos últimos tempos. O silêncio foi total, os [1]cinco bilhões de habitantes     pararam e se fixaram em seus IPhone8 ou seus televisores para assistir por todas as partes a grande sentença.

   — Meus amados, crédulos e incrédulos! Antes de separar o joio do trigo a todos direi mais algumas verdades. Muito já foi dito por mim e está escrito, porém, escrevam mais... de verdade em verdade vos digo, aquele que me seguir até o ano de 3027, respeitando como gostaria de ser respeitado, tratando como gostaria de ser tratado (excluo os masoquistas), pronunciando palavras, que gostaria de ouvi-las de outros para si; amando como gostaria de ser amado, terá a eternidade do Paraíso. Digo mais, o arrependimento dos pecados não precisa ser verbalizado... eu sei, eu vejo, pois o verdadeiro arrependimento é um sentimento e não uma demonstração de retórica oral. Prossegue Jesus. Falo para todos... os aqui presentes, os que estão em todas as outras cidades e sítios, os que já morreram, os que estão em glória celeste e os que estão por vir nos próximos mil anos. Parem com essa besteira de ficar comprando graças e mais graças ou, trocando, por favores de sofrimento, como se isso me convencesse de ajuda-los nas suas dificuldades. Tudo bobagem! O mérito está em suas mãos e nos seus verdadeiros sentimentos.  Bem, não aguento mais esses pecadores e, estou aqui, para, separa-los por mil anos, colocando-os no lugar que eles merecem juntamente com seus lideres e Satanás. Vão... formem uma fila e sigam para bem longe e até o Juízo Final do Trono Branco. Sentenciou Jesus Cristo.

   Com a sentença pronunciada, forma-se uma enorme fila, sem violência, sem necessidade de policiais ou militares eles se vão em direção a algum lugar que não interessa aos justos. Justos que agora estão livres para a vida no Reino de Cristo.

   Antes de aderirem a tétrica fila, Satanás e o Ministro da Justiça do Brasil, aquele juiz, que ficou conhecido no mundo todo por ter sido desrespeitado por uma moça que não o reconheceu como Deus, tentaram uma delação premiada, o que não foi acatada por Jesus.
Outros recursos de significado reivindicatório, devido a particularidades regionais, foram encaminhados a outros tribunais de igual valor, para serem julgados pelos pares de Jesus. Muitos esperavam, por exemplo, que Maomé teria maior rigor com seus réus do que Jesus, e não, ele e os outros  profetas usaram os mesmos critérios usados por Jesus.

   Oaldo, com os olhos bem arregalados, marejados e com feições sérias percebe que viverá o Milênio no reino do Senhor.

   Com o distanciamento dos condenados, Jesus vai para o meio do povo conversar de perto com cada um dos seus súditos. Isso parece impossível, mas ele se multiplica no mundo todo para que cada pessoa possa falar pessoalmente com ele. Na vez de Oaldo, fica enfim esclarecido, por que ele é salvo sem ser um santo e nunca ter seguido alguma religião. Que privilégio é este que tenho? Pergunta a Jesus.  Você talvez não percebeu, mas por mim nada passa, nada acontece sem que eu saiba. Hoje, você é um homem sem pecado! Passou por várias provações e tentações e não caiu mais. Os pecados que outrora cometeste você pediu perdão, isso foi um ato de humildade que foi reconhecido por mim.
  
   — Mas mestre! Não me sinto superior a ninguém nem melhor... nem me sinto santo. Como isso pode acontecer? Jesus dá uma risada e completa. Quem disse que para viver no Paraíso eternamente precisa ser santo ou superior aos outros? É só não ter pecado! Veja o caso dos animais! A propósito, tenho que fazer algumas atualizações nos sete pecados capitais e você será o escriba destes adendos na Bíblia. Mantenha seu iphone sempre com a bateria carregada para não perder de anotar as novas parábolas.

   Oaldo viveu até os 111 anos.




[1] Ver balanço demográfico nas Considerações finais.

II - Nada como um dia após o outro

O Criador, quando concebeu o universo, 13,7 bilhões de anos atrás, não se limitou a dar atenção somente ao nosso planeta, ele está presente em cada uma das 180 bilhões de galáxias, e mais, em cada um dos dez sextilhões[1] de astros.

   A infinidade de outros planetas, escolhidos pelo Criador para habita-los, são muito parecidos com o nosso, mas não obrigatoriamente iguais. E os filhos de Deus destes planetas seguem a mesma lei que o Criador nos impôs.

   Surge aí uma pergunta para aldo fazer ao Pai celestial...  Aproveitando que o show ainda não começou, ele pergunta com a face virada para cima. Meu venerado Deus, existe filhos teu fora de nosso paraíso?... Os anjos se abrem para dar passagem de um sopro de luz, carregado de sentimento de esclarecimentos, como um fluido, penetra em sua pálida face. Com um santo sorriso nos lábios, aldo baixa a cabeça e dobra os joelhos lentamente até o chão e balbucia. Obrigado Senhor!

   O casal de suecos corre até ele e, com afagos em suas costas, innea pergunta. O que ele disse? Ele me contou tudo. Isso é tanto, que precisaria de um tempo infinito para lhe contar e, farei isso. Incrível! Prosseguiu aldo, estou sabendo agora tudo que eu imaginava e muito mais, por exemplo: o espaço infinito não é somente o sideral, foi criado também o espaço infinitesimal que fica entre o que podemos ver e sentir até a espuma quântica. Se quisermos encontrar, outros seres inteligentes parecidos com os humanos, deveremos viajar para o universo do interior do átomo. Veja como o sistema solar é parecido com o átomo, o núcleo com o sol e o elétron com um satélite. A dica de Deus é viajar entre os átomos, fica infinitamente mais perto do que viajar no espaço sideral.  Pode parar! Disse innea, não estou mais interessada em conhecer um ser extraterrestre nem a vida deles. Estes, sugeridos pelo Criador são muito pequeninos. Vou me dedicar, pelos próximos mil anos a conhecer melhor as criaturas do nosso paraíso.  São alguns bilhões para conhecer! Disse liver. Talvez precise mais de mil anos.

    Ei! Psiu! Vamos começar? Pergunta i-Lin. Ansiosa para oferecer aos presentes uma apresentação de uma música tradicional da Mongólia.
Um silêncio como resposta concedeu a i-Lin entoar as primeiras notas de uma música, em que na sequencia, surge, sobre a fogueira, o conjunto musical mais amado por ela. São três protagonistas, solando magistralmente, seus violinos Morin Khuur que são Instrumentos musicais de duas cordas de fios de rabo de cavalo e traz uma talha de cabeça do animal na voluta do cabo. É tocado apoiado no chão lembrando um violoncelo. Muitas palmas e perguntas à i-Lin sobre suas origens e seus feitos. Ela, pacienciosamente, explicou sobre a importância do cavalo na cultura do seu povo e falou um pouco, do pouco, que viu de Marco Polo e, assim, passou-se boa parte da noite, o pequeno público, escutando com muito interesse o dissertar acurado da pequena i-Lin.

   Uma jovem surna, sentada ao chão com as pernas cruzadas e estando ao lado de edros, pergunta a i-Lin, se ela viveu um grande amor na sua primeira vida, o que i-Lin desconversa... Bem, isso fica para eu te contar depois.

   Ao amanhecer, numa cena de total espontaneidade, aparece sobre um monte de folhas secas uma galinha branca com seus doze pintinhos amarelinhos. Ela ciscando, e os pintinhos se alimentando de pequenas sementinhas encontradas. O olhar do grupo sobre as aves gerou uma pergunta de edros. O que isso nos mostra? A primeira a responder é Ayana que está mais perto de  edros. Vejo aí o amor de mãe. Na sequencia uma série de respostas... A união entre os irmãos... A mãe deixa de comer para dar aos filhos... Filhos adotados recebendo muito amor... – Instinto.

   Ⓣedros e Ayana, suavemente se afastam do grupo que fica a olhar para o bucólico cenário. innea e liver, também se afastam, mas em sentido diferente, de mãos dadas, como sempre, buscam um refúgio de prazer no que suas pesadas roupas caem ao chão, mostrando a nudez dos puros. Seus corpos se entrelaçam com movimentos ondulares em que rostos, tórax e abdômen parecem pertencer a um só corpo, corpo de quatro braços e quatro pernas, soltos em carícias empáticas. A ausência do côncavo e o convexo, muito desejado pelos gêneros opostos na vida terrena, não impede de o prazer ser ainda maior. Os ventres, de uma forma siamesa, são um só, e só separam-se,  após uma subida as alturas, passando assim, a cair com a suavidade das plumas. Adormecem na queda, acochados e dormindo, ficam por mais de uma hora em um enorme ninho de pássaros.
   Ⓞaldo, ansioso para a noite chegar, já montou a fogueira, quer ser o primeiro a iniciar o espetáculo celestial e novamente todos juntos. Fogo aceso.

   — aldo não se sentou para fazer a abertura do show. Uma pausa foi dada e ele começa a cantar “Mandacaru, quando fulora na seca, é sinal, que a chuva chega no sertão.” Como nas noites anteriores, ilumina-se o céu acima do fogo e surge o Gonzagão, de gibão, com sua sanfona no peito, mostrando porque é o Rei do Baião. A plateia bate com as mãos no ritmo da música e aldo não perde tempo tirando i-Lin para dançar, mudou o visual para o momento, trocou as havaianas por sandálias e colocou um chapéu de vaqueiro na cabeça. Ⓐi-Lin, pavoneava curtindo o momento — e, apesar de todo peso de suas roupas e acessórios, não se intimidou... fez bonitinho.



[1] 1.000.000.000.000.000.000.000

I - Os três neófitos

Meu eterno Céu
Fábula


Os três neófitos
m uma paineira caduca, sentados em seus garbosos galhos, estão descontraidamente jogando conversas ao vento, 👨Oaldo, Tedros e Ai-Lin. Vamos a Roma? Disse 😇Tedros. Com as expressões de “boa ideia”, os outros dois, sem pestanejar, concordam. Como o tempo e o espaço estão muito curto, em um  estalar de dedos estão eles em Roma, local muito acessado por santos e justos regozijando-se em rodas intermináveis de alegrias e afagos. Em um panorama de luzes os agraciados fazem reverências de acolhimento aos recém-chegados, deixando, os três, mais felizes ainda, por estarem ali, Roma.


  — Já estive em Jerusalém, diz Oaldo aos dois próximos, que nunca lá estiveram. Nisso, uma clareira se abre entre os seres, surgindo um menino que vem ao encontro dos três, levitando e sorrindo, com o rosto na altura dos rostos dos recém-chegados, ele diz, fazendo as boas vindas: “Bem vindo ao nosso reino” seguido de um beijo de verdade em cada um. Quero me apresentar... Escolho o visual de menino porque foi assim que fui mais feliz na vida terrena, mas, tive uma longa vida de soldado. E vocês? Bem, me chamo 👨Oaldo Relkkoff[2], vivi a tribulação e boa parte do Milênio sem ser arrebatado, fui bastante questionado perante o Tribunal de Cristo e me saí muito bem. Fui convidado à Ceia das Bodas do Cordeiro e vário outros eventos que ocorreram na cidade celestial. Todos têm um interesse especial comigo, pois sou conhecido como “O homem que não tem pecado”. Visto-me assim, de bermuda e camiseta, porque assim foi a melhor fase de minha vida na terra. Já Tedros e 👩Ai-Lin, tão diferentes no visual, tem uma história bem diferente. Sim, me chamo Tedros[2] e vivia numa tribo da África Oriental, longe de tudo, mas meu povo era muito amável e cultuava a  receptividade.


  — Meu nome é Ai-Lin[2] e fui contemporânea de Marco Polo, que o avistei, quando de passagem na cidade onde morei. Ai-Lin ostenta um longo cabelo armado para cima e arciforme para os dois lados, formando, o que parece ser, os chifres de um carneiro. É um elaborado penteado ornado com pérolas e pedras preciosas, firme e muito bem amarrado. Ela escolheu este legendário penteado com a tradicional veste que usa, pela honrada admiração tida pela rainha mongol de sua época no século XIII.


Roma de Trajano
  Roma mostra-se, como uma cidade movimentada e festiva com soldados romanos passeando de capacetes em bronze, couraças e sandálias, porém, despojados de lanças e escudos, conversam e riem com todos que os encontram.
 😇edros[2], orgulhoso da sua tatuagem em seu ombro a mantém sempre à vista, enquanto, outros viventes se despertam para perguntar-lhe sobre o significado. O leão de boca totalmente aberta parece pronto para morder, ou, quem sabe... bocejando, se destacando em um fundo branco. A pele negra de Tedros dá mais destaque ainda, a gravura. Perguntado, se era a primeira vez que estava em Roma, Tedros balançou a cabeça confirmando. Os três caminham juntos pelas ruelas frente a fóruns e templos, param sobre a sombra do alto muro do Forum Augusti e passam a admirar a Basilica Aemilia. Um pouco mais a frente, o portão principal do fórum da passagem para uma infinidade de pessoas, diferentemente vestidos e de diferentes épocas. Falam línguas e dialetos diferentes, porém,incrível, todos se entendem, afinal não poderia ser de outra maneira. Atraídos pelo fluxo, o trio, seguem a multidão pórtico adentro e, se dão de cara, com uma polida estátua de Cléopatra Theia de tamanho real em ouro maciço. Mais adiante, destacando-se do público em geral, estão varias virgens de vestal[1], em uma roda de conversas e rizinhos. Mostram-se apegadas entre si, e, demonstram agradecimentos a deusa Vesta pela honra de as tê-las servido. Algumas martirizadas, outras nem tanto, mas todas passaram pelo sofrimento imposto por suas vidas de sacerdotisas. Vê-se nelas uma reluzente áurea de santas que na vida eterna são maravilhosamente admiradas.


  Estamos no ano 111 d.C., ano escolhido por Tedros quando da decisão de conhecer a Roma de Trajano, com a concordância de 👨Oaldo e 👩i-Lin, sem saber quem era este imperador. Aliás, não sabiam também diferenciar infinito de infinitesimal, diferença de fundamental importância na vida eterna, atrapalham-se com o tempo, momento, época e era, realmente, difícil para os neófitos. Tedros lidera este trio, pelas qualificações pessoais de seus profundos conhecimentos adquiridos em Adis Abeba. Lá, estudou história e dominava o amárico[1], que o ajudou muito em sua sanha de conhecimentos. Tedros, ainda no pátio do fórum e seduzido pelo divino cheirinho, sugere aos dois amigos, saborear panquecas de azeitonas que estavam sendo fornecidas em uma banca na “Piazza Del Mercato”.   As panquecas que faço são as melhores do paraíso! Diz a ornamentada atendente, enquanto entrega as três panquecas e sem pedir nada em troca, claro! O prazer de saborear algo tão gostoso é compartilhado com todos os probos próximos, sabendo todos, que os alimentos servem somente para o prazer da gustação. Alguns glutões, vistos pelo entorno, não param de comer, só interrompem a comilança quando estão conversando com alguém sobre culinária. A gula só foi pecado na vida terrena, e isso, enquanto havia alguém passando fome. O desejo de muitos justos de acabar com a fome na humanidade foi alcançado, somente, no governo de Jesus Cristo, logo após a sua volta no século XXI.


  Seguindo o passeio pela cidade, deixando para trás o Forum Augusti, avistam as obras do fórum de Trajano e se surpreendem com os operários que dela participam. Todos, harmonicamente trabalham com muita facilidade e demonstrando um enorme prazer no que estão fazendo. Aproximando-se de um menino que carrega uma pedra lapidada de mármore branco, 👩i-Lin pergunta ao mesmo: por que está trabalhando ao invés de estar brincando como os outros meninos? Eu brinco também, mas agora estou satisfazendo um desejo, de ser como o meu pai Dá um beijo em Ai-Lin e prossegue na sua atividade de pedreiro. São muitos trabalhando, simplesmente pelo prazer de labutar, alguns eram “workaholic”[1] na vida terrena e estão estendendo pela eternidade seu realizável desejo. Outros estão atendendo os seus sonhos de participar de uma obra histórica. Ninguém recebe salário, e sim, recebem reconhecimento pelos seus feitos. Os reconhecimentos vêm na forma de abraços, beijos e sorrisos de seus chefes, que, por sua vez, também ficam felizes por verem as realizações harmoniosamente ocorrendo.


  Oaldo avista os sábios da antiguidade grega, que, embora não cristãos, viveram virtuosamente, justificando com isso, estarem aqui no paraíso passeando por Roma. Pergunta 👨Oaldo ao mensageiro de Deus: quantos justos, abençoados e purificados vivem a eternidade? Somos trinta e oito bilhões de almas distribuídas na cronologia e no espaço do Paraíso. Tem mais... a maioria, sequer, sabia da existência de Deus, porém, tiveram uma existência terrena de “amar ao próximo como a si mesmo”. Veja o caso das crianças, muitas delas morreram antes de aprender a falar e estão aí, conosco, embelezando ainda mais a eternidade.


  O sol está se pondo e 😇edros corre por uma via sem falar nada, é seguido pelos dois amigos até que param diante de um grupo de indivíduos completamente nus, todos muito parecidos entre si. Vocês não são romanos! Afirmou Tedros com ar de pergunta. Não, não somos. Somos índios tupinambás, vivenciamos uma época, em que a natureza nos favorecia e, assim escolhemos viver a vida eterna. Temíamos Tupã, que nos mandava mensagens através de suas palavras trovoadas. Falou o mais velho do grupo.


  A noite passou. Buscando saber mais sobre o imperador Trajano, Tedros, pergunta ao mensageiro de Deus se Marcus Ulpios Traianus[2] está entre os agraciados do paraíso. Sim, respondeu o anjo. E, ele está vivendo sua melhor fase. Poderá encontra-lo casualmente por aí na idade de 30 anos como cônsul escolhido por Domiciano. Bem!... Há tempo para isso.


  Bermuda com bolso para o celular, Oaldo faz questão de usar o aparelho para fazer ligações para tempos diferentes, agora mesmo, está em uma ligação para Getulio Vargas. Quem atende é Luís Vergara[2] em um telefone de caixa de madeira com manivela de magneto e bocal de baquelite: Palácio do Catete, recepção!... Fala o secretário. Oaldo, pausa um pouco e pergunta. Poderia falar com o senhor Getúlio Vargas? Hummm... Sim, mais tarde, depois da reunião... Quem fala?! 👨Oaldo, estou falando de Roma. E, na tampa, perguntou:  talvez você possa satisfazer minha dúvida. O que levou Getúlio a merecer o paraíso, sabemos que ele era agnóstico e cometeu suicídio? Luís, político no trato com as pessoas, com o seu sotaque gaúcho de ser, respondeu: O Tchê! o julgamento é feito por Deus. O que seria difícil de entender na vida terrena, hoje, fica mais fácil. Pelos pecados, o perdão, que se não for verbalizado pode ser sentido pelo Patrão Velho, quando do arrependimento. Segue Luís: Entendo... você gosta muito de usar o celular, mas, poderia falar pessoalmente com Getúlio, aí em Roma, ele passa horas trovando com Trajano. Descobriram-se, e curtem um prazer enorme de prosear sobre os tempos... muitas vezes estive presente. Sim, é o que vou fazer. Muito obrigado, obrigado mesmo, pela sua pacienciosa atenção. Desejo a você um ótimo fim de tarde.


  👩i-Lin e Tedros estavam escutando a conversa sem entender quase nada e querem também participar dos interesses de Oaldo. Como, o mais culto dos três é Tedros, ele ajuda a planejar o encontro a ser feito com Getúlio e Trajano. Não é para hoje — diz Oaldo, vamos deixar acontecer, já que é um desejo, isso ocorrerá.


  O céu, neste mundo celestial, está mais azul do que outros dias, anjos, normalmente em grupo, cruzam de um lado para outro fazendo singelas coreografias. É um espetáculo à parte, eles fluem na atmosfera com uma suavidade angelical, ao som inebriante de Enya e Hans Zimmer, sem asas e com suas longas sobrancelhas, diferentemente do que se acreditava na mortalidade. O que se vê também, é que eles são muito jovens, alguns nus e sem órgãos genitais. Sem ter atividade humana nenhuma, eles se divertem olhando para nós. Todos têm a cor branca total, que é a soma de todas as cores, produzem um som harmônico com a música e estão sempre disponíveis para levar e trazer recados, de, e, para Deus.


  Quebrando a apatia, imposta pelo momento, 😇Tedros convida os dois companheiros a ir para a Etiópia visitar sua tribo, na época em que viveu. — Claro! Temos todo o tempo do mundo e usaremos uma fração da eternidade para sua tribo. Incrível! Ai-Lin e Oaldo falaram uníssona a frase, não deixando dúvidas sobre o deleite de visitar a Etiópia. Com a decisão tomada, em instantes, um nevoeiro cobre tudo e se descobre em seguida, deslumbrando, o vale do rio Omo. Estão no ano de 1969 sobre um trapiche, frente à aldeia em que Tedros viveu sua finitude.


Tedros está vestido com um xale amarrado a cintura, ora amarra de outras formas, mas, é assim, que sua tatuagem fica sempre vista e é reconhecida por seus conterrâneos. Quem mais chama a atenção do povo de Surma é 👩i-Lin, pelos olhos orientais, com o sulco palpebral superior bem definido e, principalmente, seu penteado na forma de chifre de carneiro.


  No largo, existente entre o trapiche e as moradas, está um fotógrafo fazendo instantâneos de jovens com as mais variadas ornamentações e pinturas no corpo. Os modelos mudam de visual em menos de meia hora, e, já estão prontos para novas estampas. As pinturas vão da cabeça aos pés, usam flores e folhas frescas, também sementes e frutos secos, tintas como, cinza com urina de vaca serve para espantar mosquitos. Aliás, as vacas são fundamentais na vida da Etiópia.


  Ao se dirigir ao fotógrafo, Tedros pergunta após cumprimentar: Você é alemão? (com o ar de que o está reconhecendo) Sim, me chamo Hans, Hans Silvester, tenho este trabalho a mais de dez anos... é o que amo fazer. Já tive a satisfação de ver sua mostra em Adis Abeba, quando lá estudava. Inesquecível para mim, pois são imagens fantásticas do meu povo.


  Próximo a Oaldo, surgem um casal de uma nuvem recém-formada e dissipada, tiram um selfie[1] e se dirigem a ele: Onde estamos? Por favor, digam-me... Na Etiópia, Vale do rio Omo, responde 👨Oaldo com expressão de obviedade, pois ela deveria saber. O feliz casal viveu vinte anos juntos, numa união cheia de atribulações, mas, o ano escolhido para viver a eternidade foi o de 2014, foi o ano em que se descobriram no amor. Usam roupas ocidentais e de inverno. São suecos. Ela, professora do ensino fundamental, ele, operário numa linha de montagem de carros. Ziguezagueando, entre os tribais, caminham pelo povoado dado as mãos e só descolando-as para tirar fotos. Viram em Ai-Lin a figura de Padmé Naberrie de Naboo, do filme “Guerra nas estrelas”. E, claro! Mais fotos com Ai-Lin que conferiu a paisagem de fundo, antes do “flash”. Parecem muito ansiosos e curiosos, querem saber mais sobre os alargadores, muito utilizados pelas mulheres em seus lábios inferiores. De motivação diferente dos botoques dos Caiapós brasileiros, os do vale do Omo, são utilizados somente por mulheres, isso, para seduzir um parceiro para o casamento; enquanto, os Caiapós os utilizam para uma boa oratória e canto, além da vaidade, e somente por homens.


  — Você sabe tudo! Disse Oaldo para 😇edros, que, satisfez o grupo com suas explicações sobre os alargadores labiais.


  O hábito de cumprimentar a todos que estão até o limite da visão e, de dar um “selinho”, nos mais próximos, fez com que Oaldo fosse em direção a uma jovem com o seu “lip plates”, belamente decorado, e lhe desse um beijo. Com incrível rapidez ela tira o ornamento para o beijo e, o coloca, com a mesma facilidade. O casal sueco não perde oportunidades, e ela não perdeu de fotografar com o seu Iphone o momento do beijo. Oaldo solicita a ela que envie a foto para o e-mail dele, pois, os três, são da mesma geração, Oaldo um pouco mais velho.


  — No momento, estamos no ano de 1969 e Tedros que está em seu tempo conhece quase todos da tribo, não todos, porque estudava na capital e, a partir daí, ficou mais por lá. Sua idade eternizada é a de 33 anos, foi quando fez pós graduação em história.


  Andando entre os seus antigos entes conhecidos e, distanciando-se de 👩i-Lin e Oaldo, Tedros parece procurar por alguém, mas, não fala nada e nem pergunta nada a ninguém; quando avista, à sombra rala de um baobá, dois jovens irmãos que suspeitou serem seus sobrinhos, a tirar leite de uma vaca. O mais novo com uma lata no chão ordenhando, e o mais velho afastando o rabo da vaca com a mão esquerda, enquanto assopra em sua vagina. A vaca parecia estar gostando, ou, talvez, acostumada com o procedimento, não estranhava. Também, Tedros não estranhou, pois conhecia muito bem o procedimento para maximizar a ordenha, mas perguntou: Vocês sabem que estão no paraíso? E, que seus direitos são iguais para os humanos e outros animais? Claro que sabemos! Isso, o que aqui fazemos é um prazer de fazer aquilo que se gosta e não prejudica ninguém e nenhum animal. Neste momento, a vaca, dá um passo lateral para aproximar o seu traseiro do menino. Tedros se despede com um selinho em cada menino e retorna para o largo principal do vilarejo... Na verdade não me lembro deles. Pensa 😇edros. Os meninos pegam a lata de leite e a levam para um belo leão de estimação beber em outra sombra próxima.


  Enquanto isso, a fogueira está sendo acesa no centro do pátio, pois a noite não demora a chegar e os moradores e visitantes a rodear o fogo, sentados no chão. Os visitantes estão diferentemente vestidos enquanto os nativos seguem a indumentária local, que assim se vestem, ou melhor, não se vestem há séculos. Na realidade eles se cobrem de pinturas e ornamentos com uma incrível facilidade, às vezes, três trocas por dia.


  Com o anoitecer, animais de hábitos noturnos, passam a se aproximar do fogo também, com ar de “me leve contigo”, eles seduzem os presentes para adota-los como animal de estimação. Com isso, garantem a vida eterna também. Os animais que possuem alguém que os adotem, além da vida eterna podem voar como os pássaros, são comuns de serem vistos elefantes voando com os urubus e anjos. Dificilmente alguém adota um urubu, mas há casos.


  Bonito de se ver é São Jorge fazendo piruetas com seu cavalo voador, o santo, não tem mais que 20 anos e somente larga de seu cavalo para conversar com os seus fiéis seguidores.


  Sentados ao chão, o casal sueco, que está entre 👩Ai-Lin e Oaldo, começam a cantar Waterloo e após alguns segundos, surge, pairando sobre a fogueira o grupo Abba, dando continuidade a música. Após aplausos, 👨Oaldo pergunta ao Tedros como que isso aconteceu. — Acho que foi, porque a nossa amiga sueca começou a cantar a música, demonstrando ser fã ou entusiasta da banda. — Gente! Devo me apresentar. — Meu nome é Ⓛinnea e de meu marido Ⓞliver e, é um prazer enorme estar junto de vocês aqui no vale do rio Omo. Sobre a fantástica apresentação de Abba nós podemos repetir com outras músicas. Precisa só ser fã e iniciar a cantar. — Posso? Perguntou Oaldo. E, assim, ficaram até o amanhecer assistindo suas bandas preferidas e o que mais emocionou o público, principalmente os etíopes, foi o musical “O Rei Leão”, em que, Julie Taymor apareceu entre o público agradecendo os aplausos com abraços e beijos.
  Amanhece e o fogo se apaga. Um leão que não era rei, aproxima-se juntamente com os meninos irmãos, enquanto o grupo começa, lentamente, a se dispersar. 😇edros os apresenta para seus amigos viajantes e oferece o leão para Ai-Lin montar. Enquanto isso, Oaldo atende uma ligação. É Luís, o secretário de Getulio Vargas, que liga do Catete para informar que seu chefe está em Roma com Trajano.


  — Estou voltando para Roma, alguém me acompanha? Ai-Lin, com movimento dos olhos “direita, esquerda” diz: Prefiro ficar mais um pouco por aqui, te esperando para irmos a Jerusalém. Os outros ficam com Ai-Lin com o mesmo propósito.
Sumiu...
  👨Oaldo reaparece no largo central do fórum de Augusti a uma pequena distância dos dois mandatários, e os interrompe se apresentando. Aparentando uns 50 anos, Getúlio parece pai de Trajano, principalmente pelo jeito que eles conversam, dando a impressão que ele tem mais o que ensinar para Trajano do que 🙋Trajano tem para ele. Getúlio se antecipa a pergunta de Oaldo e diz: — Já sei o que tenho que dizer, o Luís me falou de você, e, proseguiu, Jesus morreu por todos os nossos pecados e o pecado do suicídio está coberto pelo seu sangue, e ainda, após a bala penetrar em meu peito, naquele segundo, me arrependi, já era tarde demais para a vida terrena, mas não, para o início da vida eterna. Aqui, estou ao lado de você e de todos aqueles que merecem o paraíso com a graça de Deus. Prosseguiu: — Quando jovem e seduzido pela filosofia de Nietzsche fiz críticas ao cristianismo e a moral cristã das quais não precisei me arrepender para estar aqui; muitos cristãos, coroados pela pretensão da proteção da Bíblia não estão aqui por quê? Porque estavam maquiados de hipocrisia, com um livro sagrado em baixo do braço e a mente na busca de vantagens egoístas. Outros acumularam materiais durante a vida toda, e agradeciam a Deus pelos bens alcançados, com isso, esqueceram-se de fazerem o que realmente deveriam fazer.


  — O que há em comum com seu amigo Trajano? Pergunta Oaldo. Deixo para ele responder. Eu, como imperador deixei prosperidade para meu povo e, no fim de minha vida, me arrependi dos pecados e crueldades que também cometi, pedindo perdão a Júpiter. Estou aqui, pela universal piedade de Deus. Nada é maior do que a misericórdia de Deus! Seja qual for o nome dado a ele. A eternidade me deu, também, a felicidade de ser amigo deste admirável gaúcho e..., quem diria, de estar aqui saboreando o chimarrão com ele. Vai um agora? Perguntou Trajano ao Oaldo. Claro! Não vou perder esta oportunidade de sorver essa bebida tradicional do sul das Américas, como sabemos, indicada por Tupã aos índios Guaranis.


  Getúlio interveio, a erva aqui da eternidade é divina.


  Mateando, os três, ficaram horas proseando sentados em um degrau do fórum. Já se passavam das três da tarde quando 👨Oaldo se despede dos dois amigos e num “Puf!” retorna para a Etiópia.


  — Não posso perder essa noitada, hoje quero uma apresentação de Luiz Gonzaga em que vou dançar um baião com a Ai-Lin. Disse Oaldo ao chegar e, dirigindo-se ao Tedros pergunta: Como faço para falar com Deus? Ora, ora! é só virar o rosto para cima e falar com ele. Ele está em todos os lugares e em todos os tempos. Estou pensando o que falar... Não tenho nada o que pedir, pois tenho tudo o que quero... Agradecer... Hmmm...  Já fiz isso. Já sei, vou contar um pouco da minha vida para ele. Melhor não. Ele sabe de tudo! Virou o rosto para cima e disse: “Estou contigo e não abro... Você é o cara!”. Os anjos que estavam em semicírculo para assistir o que ele iria falar se desmancharam em risos, e uma chuva de confetes luminosos caiu sobre todos os presentes pintando de “petit Poá” o chão da aldeia.


  O fogo foi aceso e os presentes sentaram-se ao chão. A noite é uma criança.




Bom dia!



Que planta é essa? - Quem nunca se perguntou andando pela cidade ou a passeio pelo interior?
E, assim sendo, foram infinitas às vezes que me perguntei e tinha na minha frente galhos e folhas como recurso para a identificação. Para um botânico isso é fácil, o que para muita gente não é. Começamos com a classificação primária. Folhas simples ou compostas?
Como o segundo caminho temos o DESCUBRAONOME.

 SIMPLES
SIMPL

 COMPOSTAS
COMPO